domingo, 31 de janeiro de 2010

Um pouquinho de San Blas... e hasta la vista!

Dei uma olhada no blog agora e vi que nao falei nada sobre nossa visita a San Blas, o tal arquipélago controlado pelos índios Kuna. Como acordei super cedo, vou aproveitar pra falar um pouco sobre isso. Foi o seguinte:

O território dos índios é composto por várias ilhazinhas, algumas propriedades de certas famílias e outras, propriedade comunal. Para chegar lá, pegamos um jeep de madrugada que, em 4 horas desde Panama City, subiu e desceu montanhas, passou por estradas horríveis e atravessou um pântano para nos deixar num lugar no meio do nada onde havia uma aglomeraçao de Kunas à toa. Lá, conseguimos uma canoa para nos levar até Carti, a ilha mais populosa da área. Éramos nós, o casal de velhinhos sul-africanos que foi com a gente, Doug e Mary, um espanhol e mais seis índios. E era só uma canoazinha escavada de uma grande árvore, o tempo estava tenebroso e o mar balançava bastante. Chegamos até Carti com o barco meio cheio d´água e eu pensando que se demorasse mais um pouquinho teríamos que fazer o resto do caminho a nado. hehe

Carti era o verdadeiro cu do mundo. Uma ilha pequena, totalmente atochada de barracas de vime, muito suja e com lixo por todos os cantos. O chao era de barro e tudo era sujo demais, inclusive, os banheiros deles eram cabaninhas de onde os dejetos saiam direto no mar, e as ondinhas suaves que lambiam a ilha faziam com que os amontoados de lixo nas margens balançassem também, indo e vindo ao sabor da maré. Fiquei meio angustiada, porque os relatos que tínhamos lido eram de gente que tinha ficado em Carti mesmo, em barracas no meio da lixarada, e eu nao conseguia me imaginar ficando lá. Sem saber o que fazer, demos uma volta com as mochilas pela ilha e ninguém conseguia nos dar nenhuma informaçao decente, entao sentamos num barzinho perto do pier principal e ficamos pensando em como dar o fora dali, mas nenhuma opçao parecia boa. Quando eu já estava tendo aqueles lampejos desesperados de "da próxima vez eu vou pra Disney", eis que Doug surge com um índio que ele encontrou no píer, dizendo que era o proprietário de uma ilhazinha e que nos ofereceria hospedagem e comida por U$ 20 diários e passeios de barco para as outras ilhas. Aceitamos na hora e fomos com Efrahin.

O trajeto de barco durou uns 50 minutos, molhando tudo e pulando muito com cada onda. Eu nao fazia ideia do que esperar, àquela altura só sair de Carti já era lucro, mas ao chegar na ilha vi que toda aquela maratona tinha valido a pena. O lugar superava qualquer expectativa que a gente pudesse ter. Uma prainha calma, com água totalmente transparente, cercada de coqueiros e com algumas cabanas de palha espalhadas lá para trás, além de várias redes penduradas nas árvores. Indiozinhos brincavam enquanto algumas poucas pessoas descansavam e outras nadavam. Parecia mesmo uma cena daquele filme A Praia, com Leonardo diCaprio.

Fomos entao encaminhados para a nossa barraca, bem na beiradinha da praia, na areia. De vime, com uma porta que nao fechava direito e duas camas de campanha muito modestas, mas que tinham até lençol e travesseiro. E uma janelinha sensacional, que dava direto naquele azul do Caribe. O "chuveiro" era uma tina comunal de água com uma baciazinha, enquanto o banheiro era um vaso sanitário ao ar livre, cuja descarga consisitia em um balde de água do mar. Muito roots. haha Largamos tudo na cabana e passamos o resto da manha mergulhando na água morninha, vendo os corais e milhares de peixes de todos os tamanhos ali em volta. Ao longe, dava pra ver outras ilhas (uma dela, só um coqueiro no meio do mar) e os pelicanos pescando. E os dias lá foram passando assim... na praia, na rede, pegando o barco para ir nas outras ilhas, conversando com gente do mundo todo... e eu nunca tinha imaginado que pudesse ser tao bonito assim, dava vontade de tirar um milhao de fotos pra nunca esquecer aquilo, mesmo sabendo que, de qualquer jeito, nao esqueceríamos mesmo.

Na hora das refeiçoes eram sempre frutos do mar e todo mundo sentado em volta de uma grande mesa. Teve caranguejada, peixe e, no jantar, sempre uma bacia de lagostas que os índios pescavam ali em volta, tao frescas que só faltavam dar um gritinho. O Julio, mesmo com aquela cara-de-nojo-de-peixe habitual, provou tudo bravamente e, embora nao admita, acho até que gostou de lagosta. De noite, ficávamos lá na mesa, o único lugar com luz (a energia solar acabou de chegar em algumas ilhas) tomando cerveja Balboa e conversando com o pessoal. Demos a sorte de ficar lá com um grupo de gente muito legal e divertida, de todos os cantos, que com certeza contribuiu muito para a qualidade da viagem. Eram duas holandesas, um austríaco, uma inglesa, um argentino, dois israelenses, dois americanos (um deles estava morando lá, dando aula de ingles pros índios) e um filipino.

Foi muito bom poder conhecer uma parte quase intocada do Caribe, sem aquela arruaça dos cruzeiros turísticos que zoneiam lugares como a Jamaica e sem o aglomerado de turistoes (e a brasileirada!) que vao para destinos mais famosos como Aruba e Curaçao. E muito mais barato. Éramos só nós e a natureza, e foi bom podermos conhecer mais sobre a cultura dos Kuna também. Eles sao engraçados: por lá, as mulheres mandam mais do que os homens. Quando eles casam, o homem assume o nome da mulher, e é ela quem herda os bens da família. Por isso, se uma família nao tem uma filha, muitas vezes acaba escolhendo um filho para criar como menina. Nossos índios lá na ilhazinha eram particularmente engraçados. As índias ficavam na rede o dia todo conversando, enquanto os homens faziam todo o trabalho. Jesus (de uns 17 anos) era o responsável pela vendinha, Amélio (nome apropriado - de uns 15) limpava e cozinhava, enquanto Robinson (o dono da ilha) cuidava da administraçao e dos passeios de barco. E ainda tinha o Efrahin, cunhado do Robinson, que era o relaçoes publicas da ilha, só fazendo social com a galera. haha Esses índios bebem muito, principalmente cerveja. Teve um dia que ficamos bebendo com Efrahin e ele, já mucho loco, começou a dar cerveja (vendida a U$1,50) pra todo mundo. A mesa ficava a uns 10 metros da vendinha, mas ele usava o celular para ligar para Jesus trazer mais cerveja, enquanto o povo se acabava de rir. O celular, assim como a cerveja, virou companheiro inseparável dos Kuna, é a tecnologia bagunçando tudo. A relaçao desses índios com dinheiro, aliás, é estranha... eles nao parecem ter muita noçao do valor, já que ainda fazem escambo entre eles. Efrahin, malucaço, chegou a jogar dinheiro no chao enquanto bebíamos, dizendo que pra ele aquilo nao significava nada. Mas depois ele acabou pegando e guardando de novo no bolso, que índio nao é bobo nao. hahaha :)

Opa, esgotou meu tempo no computador. Entao é isso, fico por aqui. Nosso aviao de volta sai hoje às 6pm, chegamos no Rio umas 9am amanha, daí deixamos as coisas em casa e ja vamos direto por trabalho. É isso aí, "work hard, play hard". Mas apesar de nao me importar em ficar mais uns 6 meses de ferias, se pudesse, devo dizer que fico muito feliz em voltar para o meu trabalho - fazendo o que gosto com pessoas que gosto, no ambiente que escolhemos, e isso nao tem preço. :D Vou seguir com o blog e colocar o link para as fotos assim que tiver um tempinho. Um beijo pra todo mundo e até mais ver!

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